QUESTÕES DE SOCIOLOGIA E LITERATURA: Brasil e identidade nacional
É no primeiro dia do Enem que são aplicadas as questões de sociologia e literatura. Por isso, os professores José Mantovani reuniram exercícios sobre Brasil e identidade nacional, assunto que sempre cai no exame.
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E para quem quer se dar bem mesmo nas questões sobre Brasil e identidade nacional na prova de ciências humanas, o Lá Vem o Enem preparou uma aula exclusiva sobre esse assunto. Assista abaixo.
Questões de sociologia e literatura
Questão 1:
Leia o fragmento que segue.
“A travessia foi penosamente feita. O terreno inconsistente e móvel fugia sob os passos aos caminhantes; remorava a tração das carretas absorvendo as rodas até ao meio dos raios; opunha, salteadamente, flexíveis barreiras de espinheirais, que era forçoso destramar a facão; e reduplicava, no reverberar intenso das areias, a adustão da canícula. De sorte que ao chegar à tarde, à “Serra Branca”, a tropa estava exausta.
Exausta e sequiosa. Caminhara oito horas sem parar, em pleno arder do sol bravio do verão.”
O fragmento pertence ao livro Os sertões, de Euclides da Cunha, que relata a Guerra de Canudos, travada no Nordeste brasileiro entre os homens liderados por Antônio Conselheiro e as tropas militares republicanas. Neste trecho da obra,
A) alternam-se a linguagem coloquial e a inconformidade com a exploração do homem pelo homem.
B) a complexidade vocabular e o predomínio da descrição constituem características marcantes.
C) a reiteração de expressões regionais e a preocupação com a condição humana permeiam o ponto de vista do narrador.
D) Idealiza a paisagem do sertão nordestino por meio de um senso de subjetivação e adjetivação necessários a uma linguagem sentimental.
E) O texto tem uma composição cientificista no mesmo nível dos escritores parnasianos, os quais usam em seus versos o modelo de poesia hermética aplicada ao texto “Os sertões”.
Questão 2:
Leia os textos Psicologia de um vencido, de Augusto dos Anjos e em seguida responda o que se pede.
Psicologia de um vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância
Sofro, desde a epigênese da infãncia,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimarnente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
A) O poema trata do problema da finitude do corpo, corroído por doenças, utilizando um vocabulário subjetivo, parnasiano, romântico e extremamente incomum à poesia do autor.
B) O haicai de Augusto dos Anjos apresenta as energias do universo, que se associam para formar o “Eu” romantizado gótico que não consegue evitar a decomposição do corpo.
C) O poema mostra a fragilidade do corpo, encarada de forma irônica, porém saudosista de um passado pessoal que se resgata pela saudade.
D) O poema evidencia o destino implacável da destruição do homem desde que nasce, marcado pela presença dos vermes.
E) O poema é uma referência à forte presença do nacionalismo modernista que surge entusiasmado pela fase heroica da primeira geração.
Questão 3:
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio tão amargo.
Eu não tinha estas mãos tão sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
– Em que espelho ficou retida
a minha face?
MEIRELES, Cecília. Retrato. In: Viagem [1939]. Rio de Janeiro, Ed. Global, 2012, p. 29.
Sobre o poema Retrato, é correto afirmar que
A) apresenta um eu-lírico que enaltece a velhice.
B) Fala de questões sociais vivenciada no Brasil da década de 30
C) mostra um eu-lírico indiferente, alheio às mudanças ocorridas ao longo do tempo.
D) apresenta um eu-lírico que reflete as condições de suas mudanças ao longo do tempo.
E) mostra um corpo paralisado no tempo, incapaz de ser afetado pelas alterações causadas pelo tempo biológico.
Questão 4:
Leia o fragmento e em seguida responda.
Era o êxodo da seca de 1898. Uma ressurreição de cemitérios antigos — esqueletos redivivos, com o aspecto terroso e o fedor das covas podres. Os fantasmas estropiados como que iam dançando, de tão trôpegos e trêmulos, num passo arrastado de quem leva as pernas, em vez de ser levado por elas. Andavam devagar, olhando para trás, como quem quer voltar. Não tinham pressa em chegar, porque não sabiam aonde iam. Expulsos de seu paraíso por espadas de fogo, iam, ao acaso, em descaminhos, no arrastão dos maus fados.
Fugiam do sol e o sol guiava-os nesse forçado nomadismo. Adelgaçados na magreira cômica, cresciam, como se o vento os levantasse. E os braços afinados desciam-lhes aos joelhos, de mãos abanando. Vinham escoteiros. Menos os hidrópicos — de ascite consecutiva à alimentação tóxica — com os fardos das barrigas alarmantes. Não tinham sexo, nem idade, nem condição nenhuma. Eram os retirantes. Nada mais.
ALMEIDA, J. A. A bagaceira. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1978.
Os recursos composicionais que inserem a obra no chamado “Romance de 30” da literatura brasileira manifestam-se aqui no(a)
A) desenho cru da realidade dramática dos retirantes.
B) indefinição dos espaços para efeito de generalização.
C) análise psicológica da reação dos personagens à seca.
D) engajamento político do narrador ante as desigualdades.
E) contemplação lírica da paisagem transformada em alegoria.
Questão 5:
Leia o fragmento do romance Vidas secas, de Graciliano Ramos.
Deu estalos com os dedos. A cachorra Baleia, aos saltos, veio lamber-lhe as mãos grossas e cabeludas. Fabiano recebeu a carícia, enterneceu-se:
— Você é um bicho, Baleia.
Vivia longe dos homens, só se dava bem com animais. Os seus pés duros quebravam espinhos e não sentiam a quentura da terra. Montado, confundia-se com o cavalo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro entendia. A pé, não se aguentava bem. Pendia para um lado, para o outro lado, cambaio, torto e feio. Às vezes utilizava nas relações com as pessoas a mesma língua com que se dirigia aos brutos — exclamações, onomatopeias. Na verdade falava pouco. Admirava as palavras compridas e difíceis da gente da cidade, tentava reproduzir algumas, em vão, mas sabia que elas eram inúteis e talvez perigosas.
Uma das crianças aproximou-se, perguntou-lhe qualquer coisa. Fabiano parou, franziu a testa, esperou de boca aberta a repetição da pergunta. Não percebendo o que o filho desejava, repreendeu-o. O menino estava ficando muito curioso, muito enxerido. Se continuasse assim, metido com o que não era da conta dele, como iria acabar? Repeliu-o, vexado:
— Esses capetas têm ideias…
Não completou o pensamento, mas achou que aquilo estava errado. Tentou recordar o seu tempo de infância, viu-se miúdo, enfezado, a camisinha encardida e rota, acompanhando o pai no serviço do campo, interrogando-o debalde. Chamou os filhos, falou de coisas imediatas, procurou interessá-los. Bateu palmas:
— Ecô! ecô!
A cachorra Baleia saiu correndo entre os alastrados e quipás, farejando a novilha raposa. Depois de alguns minutos voltou desanimada, triste, o rabo murcho. Fabiano consolou-a, afagou-a. Queria apenas dar um ensinamento aos meninos. Era bom eles saberem que deviam proceder assim.
(Vidas secas, 2013.)
Uma das características do Regionalismo, do qual o romance Vidas secas é uma manifestação, é:
A) a descrição de paisagens regionais sob um ponto de vista que as idealiza, transformando o cenário retratado e seu habitante em uma realidade especial, cuja pureza deve ser valorizada.
B) o foco em belezas naturais que sobreviveram à margem, longe da ação do homem e do olhar seletivo dos artistas, que antes se preocupavam apenas com as capitais e os grandes centros.
C) o retrato de realidades distantes das capitais e dos principais centros urbanos, sob um ponto de vista que estabelece conexões entre o meio físico, a organização social e os seres humanos.
D) a produção de uma ideia estereotipada de Brasil, que simplifica a realidade nacional para que ela seja mais facilmente entendida e consumida por um leitor estrangeiro que conheça pouco o país.
E) a narrativa escrita por homens simples, como o vaqueiro e o menino de rua, o que rompe com a ideia de que estes indivíduos não seriam capazes de escrever sua própria literatura.
Gabarito das questões de sociologia e literatura
1 – B.
2 – D.
3 – D.
4 – A.
5 – C.
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