QUESTÕES DE LITERATURA: Modernismo
O primeiro dia do Enem 2024 tem 40 questões de linguagens, área do conhecimento que envolve a disciplina de literatura. Pensando nisso, o professor Rodrigo Paes reuniu questões de literatura sobre o Modernismo, que é um tema recorrente na prova.
Ao todo, são sete perguntas sobre as três gerações do movimento, que são a heroica, a de consolidação e pós-moderna.
E para quem quer se dar bem mesmo nas questões de literatura, o Lá Vem o Enem preparou uma aula exclusiva sobre esse assunto. Assista abaixo.
Questão 1
Leia o poema a seguir, considerando o contexto do bombardeio nuclear nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki durante a Segunda Guerra Mundial.
A Rosa de Hiroshima
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.
MORAES, Vinícius. Nova antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. p. 135. Adaptado.
Marque a única resposta que corretamente justifica o uso da figura “rosa” no poema:
A) A rosa é um elogio delicado do poeta ao tema da Segunda Guerra Mundial.
B) A rosa é uma metonímia pela proximidade de relação entre ela e a bomba.
C) A figura é uma metáfora da marca da bomba e das feridas que ela deixou.
D) A figura é uma ironia aos horrores provocados pelas guerras entre nações.
E) Uma crítica social por meio de uma visão realista das explosões que ocorreram na II Guerra Mundial.
Questão 2
Chega um momento em que a tensão eu/mundo se exprime mediante uma perspectiva crítica, imanente à escrita, o que torna o romance não mais uma variante literária da rotina social, mas o seu avesso; logo, o oposto do discurso ideológico do homem médio. O romancista “imitaria” a vida, sim, mas qual vida? Aquela cujo sentido dramático escapa a homens e mulheres entorpecidos ou automatizados por seus hábitos cotidianos. A vida como objeto de busca e construção, e não a vida como encadeamento de tempos vazios e inertes. Caso essa pobre vida-morte deva ser tematizada, ela aparecerá como tal, degradada, sem a aura positiva com que as palavras “realismo” e “realidade” são usadas nos discursos que fazem a apologia conformista da “vida como ela é”… A escrita da resistência, a narrativa atravessada pela tensão crítica, mostra, sem retórica nem alarde ideológico, que essa “vida como ela é” é, quase sempre, o ramerrão de um mecanismo alienante, precisamente o contrário da vida plena e digna de ser vivida.
É nesse sentido que se pode dizer que a narrativa descobre a vida verdadeira, e que esta abraça e transcende a vida real. A literatura, com ser ficção, resiste à mentira. É nesse horizonte que o espaço da literatura, considerado em geral como lugar da fantasia, pode ser o lugar da verdade mais exigente.
Alfredo Bosi. “Narrativa e resistência”. Adaptado.
O conceito de resistência, expresso pela tensão do indivíduo perante o mundo, adquire perspectiva crítica na escrita do romance quando o autor
A) rompe a superfície enganosa da realidade.
B) forja um realismo rente à vida mesquinha.
C) forja um realismo rente à vida mesquinha, bem como figura a vacuidade do presente.
D) conserva o discurso positivo da ordem.
E) consegue sobrepor a fantasia à verdade.
Questão 3
As vanguardas europeias trouxeram novas perspectivas para as artes plásticas brasileiras Na obra O mamoeiro, a pintora Tarsila do Amaral valoriza
A) a representação de trabalhadores do campo.
B) as retas em detrimento dos círculos.
C) os padrões tradicionais nacionalistas.
D) a representação por formas geométricas.
E) os padrões e objetos mecânicos.
Questão 4
Vidas secas (fragmento)
Deu estalos com os dedos. A cachorra Baleia, aos saltos, veio lamber-lhe as mãos grossas e cabeludas. Fabiano recebeu a carícia, enterneceu-se:
— Você é um bicho, Baleia.
Vivia longe dos homens, só se dava bem com animais. Os seus pés duro quebravam espinhos e não sentiam a quentura da terra. Montado, confundia-se com o cavalo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro entendia. A pé, não se aguentava bem. Pendia para um lado, para o outro lado, cambaio, torto e feio. Às vezes utilizava nas relações com as pessoas a mesma língua com que se dirigia aos brutos — exclamações, onomatopeias. Na verdade falava pouco. Admirava as palavras compridas e difíceis da gente da cidade, tentava reproduzir algumas, em vão, mas sabia que elas eram inúteis e talvez perigosas.
Uma das crianças aproximou-se, perguntou-lhe qualquer coisa. Fabiano parou, franziu a testa, esperou de boca aberta a repetição da pergunta. Não percebendo o que o filho desejava, repreendeu-o. O menino estava ficando muito curioso, muito enxerido. Se continuasse assim, metido com o que não era da conta dele, como iria acabar? Repeliu-o, vexado:
— Esses capetas têm ideias…
Não completou o pensamento, mas achou que aquilo estava errado. Tentou recordar o seu tempo de infância, viu-se miúdo, enfezado, a camisinha encardida e rota, acompanhando o pai no serviço do campo, interrogando-o debalde. Chamou os filhos, falou de coisas imediatas, procurou interessá-los. Bateu palmas:
— Ecô! ecô!
A cachorra Baleia saiu correndo entre os alastrados e quipás, farejando a novilha raposa. Depois de alguns minutos voltou desanimada, triste, o rabo murcho. Fabiano consolou-a, afagou-a. Queria apenas dar um ensinamento aos meninos. Era bom eles saberem que deviam proceder assim.
(Vidas secas, 2013.)
Uma das características do Regionalismo, do qual o romance Vidas secas é uma manifestação, é:
A) a descrição de paisagens regionais sob um ponto de vista que as idealiza, transformando o cenário retratado e seu habitante em uma realidade especial, cuja pureza deve ser valorizada.
B) o foco em belezas naturais que sobreviveram à margem, longe da ação do homem e do olhar seletivo dos artistas, que antes se preocupavam apenas com as capitais e os grandes centros.
C) o retrato de realidades distantes das capitais e dos principais centros urbanos, sob um ponto de vista que estabelece conexões entre o meio físico, a organização social e os seres humanos.
D) a produção de uma ideia estereotipada de Brasil, que simplifica a realidade nacional para que ela seja mais facilmente entendida e consumida por um leitor estrangeiro que conheça pouco o país.
E) a narrativa escrita por homens simples, como o vaqueiro e o menino de rua, o que rompe com a ideia de que estes indivíduos não seriam capazes de escrever sua própria literatura.
Questão 5
FAMÍLIA
Três meninos e duas meninas,
sendo uma ainda de colo.
A cozinheira preta, a copeira mulata,
o papagaio, o gato, o cachorro,
as galinhas gordas no palmo de horta
e a mulher que trata de tudo.
A espreguiçadeira, a cama, a gangorra,
o cigarro, o trabalho, a reza,
a goiabada na sobremesa de domingo,
o palito nos dentes contentes,
o gramofone rouco toda noite
e a mulher que trata de tudo.
O agiota, o leiteiro, o turco,
o médico uma vez por mês,
o bilhete todas as semanas
branco! mas a esperança sempre verde.
A mulher que trata de tudo
e a felicidade.
Carlos Drummond de Andrade. Alguma poesia.
No poema de Drummond,
A) a hierarquização dos substantivos que compõem a primeira estrofe tem a função de situar essa família na sociedade escravagista do século XIX.
B) a repetição de um verbo de ação, em contraste com o caráter nominal dos versos, destaca a serventia da figura feminina na organização familiar.
C) a ausência de menção direta ao homem produz um retrato reativo à família patriarcal, por salientar o protagonismo social da mulher.
D) o modo como os elementos que compõem a terceira estrofe estão relacionados permite inferir a prosperidade econômica familiar.
E) o enquadramento da mulher no ambiente doméstico lança luz sobre um regime social que favorece a realização plena das potencialidades femininas.
Questão 6
Que dizer das personagens? Creio que têm a força e ao mesmo tempo a fraqueza da caricatura. Mas, pensando melhor, não poderemos também alegar em defesa do romancista que a caricatura é uma tendência reconhecida e aceita da arte moderna, principalmente da pintura? Não haverá muito de deformação na obra de grandes pintores como Portinari, Di Cavalcante e Segall – todos eles inconformados com a sociedade em que vivem?
(Adaptado de Erico Verissimo, Prefácio, em Caminhos Cruzados. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 20-21.)
A ideia de deformação aplica-se ao quadro de Tarsila e ao romance Caminhos cruzados, de Érico Veríssimo, porque tal procedimento artístico acentua
A) a crítica do modernismo à violência da escravidão e às desigualdades sociais, presentes no quadro e nas personagens do romance, respectivamente.
B) o imaginário da burguesia nacional, pois tanto as protagonistas do romance quanto a imagem da mulher negra retratam os traços característicos das reformas sociais do Estado Novo.
C) os princípios estéticos do movimento modernista, pois as duas expressões artísticas apresentam-se como reflexo dos valores da elite cafeeira paulista.
D) a moral implícita da modernidade, pois o narrador do livro e a representação do corpo negro criticam o comportamento social das personagens femininas no século XX.
E) é uma visão romantizada das imagens que tanto veríssimo quanto Tarsila faz da condição do negro na sociedade brasileira.
Questão 7
Ser cronista
Sei que não sou, mas tenho meditado ligeiramente no assunto.
Crônica é um relato? É uma conversa? É um resumo de um estado de espírito? Não sei, pois antes de começar a escrever para o Jornal do Brasil, eu só tinha escrito romances e contos.
E também sem perceber, à medida que escrevia para aqui, ia me tornando pessoal demais, correndo o risco de em breve publicar minha vida passada e presente, o que não pretendo.
Outra coisa notei: basta eu saber que estou escrevendo para jornal, isto é, para algo aberto facilmente por todo o mundo, e não para um livro, que só é aberto por quem realmente quer, para que, sem mesmo sentir, o modo de escrever se transforme. Não é que me desagrade mudar, pelo contrário. Mas queria que fossem mudanças mais profundas e interiores que não viessem a se refletir no escrever. Mas mudar só porque isso é uma coluna ou uma crônica? Ser mais leve só porque o leitor assim o quer? Divertir? Fazer passar uns minutos de leitura? E outra coisa: nos meus livros quero profundamente a comunicação profunda comigo e com o leitor. Aqui no Jornal apenas falo com o leitor e agrada-me que ele fique agradado. Vou dizer a verdade: não estou contente.
LISPECTOR, C. In: A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
No texto, ao refletir sobre a atividade de cronista, a autora questiona características do gênero crônica, como
A) relação distanciada entre os interlocutores.
B) articulação de vários núcleos narrativos.
C) brevidade no tratamento da temática.
D) descrição minuciosa dos personagens.
E) público leitor exclusivo.
Gabarito
1 – C.
2 – A.
3 – D.
4 – A.
5 – B.
6 – A.
7 – C.
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